sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Andei assistindo: Koufuku Graffiti

Eu estava na dúvida de como sumarizar os pensamentos que tive em relação a Koufuku Graffiti. Fui ver se alguém mais tinha escrito sobre esse anime, que estreou semana passada, e encontrei essa postagem aqui do site anime21. Acho que vale a pena a leitura, porque o autor é mais eloquente que eu e explica muito bem o porquê de eu não ter gostado desse anime. De qualquer forma, vou tentar expressar minhas opiniões sobre esse anime. Como esse é um blog pessoal e não um blog sério de resenhas, vou tomar mais liberdades aqui.

Quando eu ouvi falar de Koufuku Graffiti, imaginei que seria um slice of life culinário ou um romancezinho que envolvia comida em algum grau. Eu estava a recém começando a ler Shokugeki no Souma na época e achei que Koufuku Graffiti me ofereceria uma visão diferente do mundo culinário: enquanto o primeiro é um mangá battle shounen (!) que envolve gastronomia (!!), o segundo traria uma visão mais quotidiana da culinária. Sim, Koufuku Graffiti me ofereceu uma visão diferente de Shokugeki no Souma... Mas não o que eu esperava.

A história é simples, mas ao mesmo tempo complicada. Temos Ryou, uma menina que mora sozinha desde o falecimento de sua avó no ano anterior. Desde então, ela não consegue mais cozinhar comidas gostosas. Ela recebe uma ligação de sua tia (? acho? Todo mundo parece ter a mesma idade nesse negócio e eu não entendi muito bem) dizendo que uma prima sua de segundo grau e que Ryou não conhece irá passar os finais de semana com ela para poder estudar num cursinho. Essa prima é Kirin, que tem uma mãe que não gosta de cozinhar e, por isso, fica abismada com os pratos maravilhosos que Ryou cozinha. Ela chega a conclusão de que Ryou não tem gostado de sua própria comida por estar comendo sozinha e o que ela precisa é de companhia. Assim, ela promete que fará companhia para Ryou. Também há mais uma protagonista nessa história, Shiina, que, imagino eu, será introduzida de verdade no segundo episódio.

Em Shokugeki no Souma, quando os personagens comem uma comida maravilhosa, essa comida evoca sensações e visões. Tem uma cena muito engraçada que uma personagem, ao comer um prato com maçãs, se imagina uma princesa conduzida por um "príncipe maçã". Outras vezes, evocando elementos ecchi, os personagens tem um orgasmo culinário comendo uma coisa gostosa, em que eles se contorcem de prazer em função de uma comida excelente. Isso não é exclusividade de Shokugeki no Souma, claro. Em Ratatouille, há aquela cena em que o crítico gastronômico come o prato que dá nome ao filme, lhe evocando várias sensações e memórias. Em Koufuku Graffiti, entretanto, ao comer sua própria comida, Ryou tem um momento em que se contorce de prazer e que Kirin descreve como "sensual". Talvez por em Shokugeki no Souma essas cenas terem um caráter cômico e em Ratatouille, um caráter emocional/dramático, eu não me importei. Entretanto, em Koufuku Graffiti, uma personagem que é uma adolescente agindo de forma sensual com a comida é um pouco estranho pra mim. Aliado ao discurso dela de que "boas esposas cozinham bem", isso me deixou com um gosto amargo na boca e eu entendi a proposta desse anime (conforme aquela matéria do anime21 descreve tão bem).

Koufuku Graffiti é um anime feito pelo moe. Me arrisco a chamá-lo de "ecchi". Honestamente, achei que era o yuri da temporada pelas tantas. Ouvi falar que tem um anime yuri essa temporada, e as cenas sugestivas da Kirin e da Ryu estavam me fazendo acreditar que Koufuku Graffiti seria esse anime. Muita gente comenta de K-ON!, que é um grande exemplo de animes feitos pelo moe (i.e "garotas bonitinhas fazendo coisas bonitinhas"), mas eu acho que K-ON! era mais tolerável, porque as personagens eram, ao seu modo, carismáticas e o anime acabava sendo mais inocente. Entretanto, não vi nada disso em Koufuku Graffiti. As personagens não me atraíram muito e tudo parecia ser feito para ser o mais moe possível. Plus, o discurso antiquado da Ryou sobre querer ser uma boa esposa me deixaram decepcionado com esse anime.

Vou assistir mais um episódio pra ver qual é a da Shiina, mas não estou com esperanças. Uma pena.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Presentes de formatura

Vou usar esse blog para sua função primordial: como diário. Por que não? Oras, outro dia desses eu comento o que achei de Agent Carter e dos animes novos dessa temporada.

Eu fui com duas colegas (uma é residente junto comigo, a outra está fazendo o seu último estágio em um RH... ambas foram minhas colegas de estágio em 2013) comprar presentes de formaturas para outras amigas, conhecidas, colegas e estagiárias que estarão se formando na próxima semana. Foi muito engraçado, apesar de eu me sentir um pouco deslocado, mas eu fiquei feliz que pude contribuir para a escolha dos presentes. :)

Para a primeira colega, ela é uma guria muito tímida, mas super-legal. Eu até nunca tinha falado muito com ela, mas num happy hour que teve a gente sentou perto um do outro e acabamos conversando sobre vários interesses em comum (ela adora mangá, diga-se de passagem). Ela me contou que ganhou de presente para formatura uma viagem para a Europa. Por isso, a gente comprou para ela um cachecol bem quentinho para ela usar na viagem. Acho que ela vai gostar! hahaha Na mesma loja, as gurias que estavam comigo acharam luvas com uma estampa de panda e decidiram que nós três precisávamos de luvas de panda combinando. Elas compraram, mas infelizmente a luva não serviu em mim. :( Façam luvas de panda para homens também, Forever 21, please! 

...Só que não. hahaha As gurias aproveitaram e me deram um monte de dicas de lojas em que eu posso comprar um presente pra minha prima, que faz aniversário no final do mês, e pra minha irmã, quando o nosso aniversário chegar (é em maio). 

Também compramos uma garrafa d'água frescurenta, dessas que tem um filtro e sei lá o que para a outra colega, que é da fisioterapia. A única coisa que sabemos sobre ela (ela é muito reservada) é que ela é de Dom Pedrito (cidade pequena), adora academia e é super-ultra-mega religiosa. Uma das gurias pensou em darmos um artigo religioso para ela, mas eu me opus. Não me sinto a vontade comprando coisas religiosas. A outra colega disse que também não e se sentiria como se estivesse entregando uma pedra de crack para um viciado. Gente, como eu ri. Discordo dela (religião e drogas no mesmo patamar? Nops, posso ser ateu, mas não sou tão radical), mas achei o máximo. Garrafa d'água it is.

Depois, as gurias decidiram dar uma sapatilha para a outra colega. Depois uma bolsa minuscula e impossível de abrir para a outra colega. E, depois, uma das gurias que estava comigo disse que precisava comprar um vestido pra usar na formatura. Deixei as gurias na loja de roupa, porque eu fiquei cansado de andar de um lado para o outro (o Barra Shopping é gigante demais!). Então, peguei um livro de quadrinhos na Saraiva e fiquei lendo num cantinho. A versão quadrinhos "Azul é a cor mais quente" é bem legal. Não li todo, mas pretendo comprar uma hora dessas!

Finalmente, fomos comer. Fico feliz que essas duas colegas não sejam tão cheias de frescuras como algumas das minhas colegas de aula eram. Cada um de nós comeu um Subway e depois fomos tomar aquele picolé frescurento mexicano que está na moda aqui em Porto Alegre. Ambos estavam ótimos. Rimos muito e reclamamos sobre nossos respectivos trabalhos... Todo mundo tem reclamações, é fato.

Anyway, foi muito divertido. Acho que passar uma tarde no shopping com as gurias é muito diferente de sair com os guris, mas é divertido de qualquer jeito. Confesso que eu era muito preconceituoso. Talvez por ter estudado onde eu estudei, sempre tive colegas que eu sempre rotulei como "patricinhas fúteis" e nunca pensei em conversar melhor com elas. Essas duas colegas talvez pudessem ser rotuladas como patricinhas, mas, em função das experiências juntos no estágio, depois de conhecê-las melhor vi que são pessoas muito legais. Lamento que talvez eu não tenha sido aberto o suficiente para conhecer melhor outras pessoas antes. Preconceito é uma merda, independente da forma, tipo e jeito que ele se apresentar!

Eu, que até recentemente tinha pouquíssimos amigos, me sinto muito feliz por ser incluído nesse tipo de coisa, então aproveitei muito a experiência e aprendi bastante coisa. Estou bem animado para as formaturas e muito curioso para ver a reação das que vão ganhar os presentes. Espero que elas gostem! ^_^

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Contação de Histórias

Uma experiência que eu tive nos meus primeiros anos de faculdade foi a de contar histórias no hospital. Eu lembro que o pessoal brigava pelas vagas para contar histórias para as crianças. Eu não. Escolhi a outra opção disponível: maternidade. Eu gosto de crianças, mas eu sempre tive dificuldades em lidar com crianças doentes. Eu e a torcida do Flamengo, é claro. Um dos meus estágios foi num RH de um hospital. Todo enfermeiro e técnico de enfermagem que eu entrevistava me dizia a mesma coisa: "trabalho com qualquer coisa, menos na maternidade e na UTI neonatal". Eu admiro profundamente os profissionais que conseguem trabalhar com crianças. Eu, no caso, não consigo.

Enfim, por esses motivos e por motivos menos profundos (preferências de horários), acabei escolhendo contar história para as novas mamães. Inicialmente, achei que as pacientes da maternidade talvez fossem ficar constrangidas comigo, mas isso se provou logo uma bobagem, já que muitos enfermeiros e médicos da maternidade também são homens. 

Eu desenvolvi um método para realizar minha sessão de histórias. Eu entrava no quarto, me aproximava do leito, me apresentava e explicava porque estava ali. Alguns pacientes diziam não querer ouvir uma história e eu respeitava. No hospital, existem tantos procedimentos invasivos que o paciente não pode recusar, que eu achava importante eles poderem me dizer "não". Acho que em um ambiente em que a pessoa não tem controle e poder de decisão sobre o próprio corpo (tu querendo ou não vão te dar remédios. Se teimar, vão te amarrar na cama e te sedar. O hospital é um ambiente autoritário e, muitas vezes, precisa ser, para o benefício futuro do paciente) é legal poder ter controle sobre uma coisa. Eu inclusive extrapolei esse pensamento para minha prática como estagiário de Psicologia e como psicólogo residente. A não ser em casos especiais, quando um paciente me diz "não", eu aceito e respeito a negativa, me colocando a disposição para o caso de mudar de idéia e insisto em outros momentos. 

Quando a paciente aceitava, eu conversava um pouco com ela. Há quanto tempo está no hospital? Como tem sido? Recebe visitas? Se sim, de quem? O que acha da comida daqui? Está conseguindo dormir? As perguntas também eram sobre o bebê e como a nova mamãe estava se sentindo. Com as respostas à essa breve anamnese, eu podia escolher a história. Eu sempre tinha dez histórias no meu repertório, quase todas da coleção "Mar de Histórias", volumes 1 e 2 e uma crônica da Martha Medeiros.

Da coleção "Mar de Histórias", eu lembro que usava uma história romana sobre como os filhos eram as jóias mais preciosas de seus pais. Eu usava essa história para mães felizes, geralmente acompanhadas de seus maridos e/ou mães e irmãs, e que geralmente tinham mais de um filho. Quando eram mães adolescentes ou que pareciam não estar muito afim de falar do bebê, eu contava uma história da mesma coleção, dessa vez um conto cômico de origem germânica, em que o casal passava a história tanta decidindo quais desejos queriam que um duende realizasse que os acabavam desperdiçando. Havia também os casos em que eu percebia que a mãe precisava ter sua auto-estima valorizada (afinal, todo mundo ia no hospital saber do bebê e ignoravam aquela que tinha sido o centro das atenções nos últimos 9 meses), então eu lia uma crônica da Martha Medeiros em que ela falava que um "mulherão" de verdade é a mulher que trabalha, que vai no supermercado, que cuida da casa, que cuida dos filhos, etc., ou seja, a mulher "comum". Era fácil das pacientes se identificarem com essa história e eu as via concordando com a cabeça enquanto lia a história. Tinha um bom resultado e, eu sentia, empoderava, ainda que de uma maneira bem simples, essas mulheres. 

Eu percebi que era importante dar atenção às mães e mostrar interesse por elas, ao invés de só falar sobre o bebê. Por isso, eu adicionei mais um recurso à minha sessão de contação de histórias: no final, eu dava para as mães uma flor feita de origami (e devidamente higienizada para poder entrar no hospital, é claro). Eu fazia as flores com a minha irmã, que sempre teve talento pra esse tipo de coisa, nos finais de semana e as pacientes pareciam gostar muito das flores. 

Outro benefício que eu percebi em decorrência das contações de histórias foi o de incentivar a leitura. Houve diversos casos que as pacientes expressaram interesse em comprar o livro que eu usava para contar a história. Houve até o caso de uma paciente que acabou ficando no hospital por várias semanas, em função de complicações, que pediu para sua irmã ir no sebo que tem na frente do hospital e lhe comprar um livro.

Como vocês podem ver, eu sou alguém muito metódico, bastante obsessivo e completamente neurótico. Um dia, eu fui fazer uma contação de histórias em dupla com uma colega de outro curso. Naquele dia deu tudo errado, porque ela, por falta de experiência (ao contrário de mim, que já estava há mais de mês fazendo isso) e por falta de prestar atenção no que alguém mais experiente está falando, acabou fazendo merda.

No primeiro quarto, ela nos apresentou para o casal que estava sozinho naquele quarto grande de seis leitos. Eu bati o olho no marido e percebi que havia algo errado. Ele não estava com uma cara muito boa. Aí a minha colega falou que estávamos ali para contar uma história e perguntou se eles queriam. O marido disse que não. Minha colega insistiu. INSISTIU! Isso não se faz. Aí o casal aceitou ouvir a história e ela contou a história romana sobre como os filhos são jóias preciosas para os pais. Quando ela terminou a história, eles agradeceram e a paciente disse que a história era muito bonita, enquanto sorria. Eu nunca vou esquecer o rosto dela e do marido dela. Nunca. Minha colega, então, perguntou sobre o bebê deles. Eu também nunca vou esquecer da voz dela dizendo isso: "hoje de manhã recebemos a notícia que ele morreu na UTI neonatal". Eu fiquei chocado. Minha colega começou a se desculpar e eu queria me enfiar num buraco. Eles se despediram de nós, e nós ficamos no corredor do hospital tentando entender o que tinha acontecido. Eu fui muito grosseiro com a colega, até porque eu fiquei com raiva por ela não ter obedecido minhas recomendações e por ela ter feito um casal passar por essa experiência terrível de ouvir sobre como filhos são maravilhosos, sendo que eles acabaram de perder um.

No quarto seguinte, tudo ocorreu bem. No seguinte, também. Aí fomos em mais um: ela ofereceu a história e as duas avós que estavam no quarto saíram para o corredor para falar com a gente. Situação similar: o bebê estava na UTI neonatal com um prognóstico não muito favorável. A mãe da criança não estava reagindo muito bem. As avós pediram para que nós rezássemos com elas e eu, mesmo sendo ateu, rezei com elas. Por que que outra coisa se pode fazer num momento desses?

No último quarto, tinha uma mãe sozinha se preparando para ir embora. O marido tinha ido levar as malas no carro e ela e o bebê já estavam de alta. A bebê dela - uma menina linda, gordinha e já vestida com um tiptop cor de rosa - dormia naqueles cestinhos de transportar o bebê. A mãe aceitou ler a história e nós lemos aquela história sobre os filhos serem jóias preciosas. Ela adorou e pediu mais uma história. E a minha colega leu a da Martha Medeiros. Essa mãe também ficou super-feliz com a flor de papel e perguntou se nós queríamos pegar a filha dela no colo. Minha colega prontamente aceitou. Eu relutei um pouco (por medo de deixar a criança cair e vergonha), mas eventualmente aceitei. Eu já devo ter segurado outros bebês na minha vida - tenho primos mais novos que eu, afinal -, mas essa menininha foi a primeira que eu lembro de ter segurado. Ela era tão bonitinha e pequenininha. A sensação de segurá-la foi ótima e melhor ainda foi entregá-la de volta para uma mãe tão feliz e sorridente. Tenho certeza que ela deve ser muito amada hoje e espero que essa mãe continue feliz.

Esse dia foi uma montanha-russa emocional pra mim. Uma sessão de histórias que começou de um jeito tão horrível e triste, terminou de um jeito tão feliz. Até hoje eu sinto um aperto no coração quando lembro desse dia, me sentindo culpado e horrível por ter permitido que um casal num momento tão vulnerável fosse exposto a algo tão horrível. Ao mesmo tempo, lembro de toda alegria dessa última mãe que visitei e da sensação gostosa de segurar aquela bebê tão pequenininha no colo e sinto um calor no meu peito. 

A experiência de contar histórias foi muito rica pra mim. Simultaneamente, eu fazia um estágio observacional em um hospital psiquiátrico e trabalhava em uma pesquisa com mães adolescentes num posto de saúde, mas eu considero que a contação de histórias foi a minha verdadeira experiência de contato com um paciente. É diferente de assistir a um grupo de pacientes sendo conduzido por outra pessoa. É diferente de entregar um questionário para um grupo de adolescentes responder, tirar dúvidas e apenas corrigi-lo depois. Contar histórias foi uma experiência humana, profunda e transformadora. Eu uso as lições que aprendi nesse momento até hoje, rotineiramente na minha prática profissional. Eu super-recomendo para quem tiver a oportunidade de participar de um trabalho voluntário com contação de histórias. E recomendo que experimente visitar outros grupos de pacientes, além das crianças (que são o público-alvo clássico): idosos, transplantados, gestantes, mães... Todos os grupos de pacientes se beneficiam de ouvirem a história, nem que seja pelo caráter puramente recreativo da atividade.