Um
amigo meu da faculdade me ligou e me convidou pra comer uma pizza na casa dele.
Estranhei. Esse cara é super de boa e nós sempre nos demos bem. Fizemos vários
trabalhos juntos na faculdade, fomos bolsistas do mesmo professor e ele me deu
carona umas vezes. Só que nós nunca fomos, assim, amiiiigos, amiiigos. Saca?
Nós éramos colegas. Éramos amigáveis um com o outro, mas não posso dizer que
éramos grandes amigos. De qualquer forma, fui lá na casa dele.
Ele estava bem esquisito. Ansioso.
Inquieto. Como eu sou pessimista pacas, estava esperando alguma notícia
bombástica. Ele decidiu que precisávamos comer algo doce e ponto final. Foi pra
cozinha fazer um tal bolo de açúcar mascavo. Eu fiquei só observando, tentando
entender o que estava acontecendo com ele. Fez o tal bolo, que ficou assando
enquanto comíamos a pizza e jogávamos truco. O bolo ficou pronto e sentamos
para comer. Aí ele foi ao ponto.
Precisava de um conselho.
Fiquei confuso. Por que logo eu? Ele
teve um episódio de verborréia e despejou tudo que queria falar. Falou várias
coisas, mas o que estava perturbando-o mais intensamente era que não conseguia
decidir se terminava com a namorada ou não. Ele queria que eu o ajudasse a
escolher “a melhor das opções”.
Ela era a primeira namorada dele. Se
conheceram no colégio - ele estava no segundo ano e ela, no primeiro do ensino
médio - e começaram a namorar em seguida. Eles tiveram todas as primeiras vezes
um do outro, se conseguem me entender. Sempre estiveram juntos. Faz uns… Sei
lá, sete anos. Por aí. Um pouco mais ou um pouco menos do que isso.
Por um lado, ela era uma mala. A
única coisa que ele era autorizado a fazer era jogar futebol no sábado de tarde
(e ela enchia muito o saco por isso). Ficavam o tempo todo juntos. Por outro,
ela o incentivava a estudar (algo que a família dele não fazia, pois não
concordavam com o curso que ele escolheu). Lá pelo segundo ano de faculdade, um
amigo dele lhe apresentou a maconha. A namorada quase enlouqueceu e colocava
ele na linha. Ela determinava quando e quanto ele podia fumar. Por um lado,
isso impedia que ele caísse na gandaia de vez. Por outro, era mais um pouco da
vida dele que ela controlava. O que eu quero dizer é que ela tinha vários
pontos positivos e negativos ao mesmo tempo.
Ele estava na dúvida. “Vale a pena
trocar o certo pelo duvidoso”? Eu disse: cara, se não tá mais afim dela, ficar
num relacionamento vazio vai ser ruim para os dois. “Será que eu vou me
arrepender”? Eu disse: claro que vai. Você vai se arrepender com qualquer uma
das escolhas, porque você vai perder e ganhar coisas em cada uma delas. “Qual é
a melhor escolha”? Eu disse: isso não existe. Você tem de pensar no que vai te
deixar mais feliz ou te fazer sofrer menos.
Se terminasse com ela, os amigos dos
dois iam ficar de cara com ele. Podia perder amigos com isso. Se ficasse com
ela, ia ficar constantemente se perguntando como seria ter outra experiência.
Se terminasse com ela, poderia ter outras experiências, conhecer pessoas novas.
Se ficasse com ela, ia deixar de fazer várias coisas que queria fazer. Se
terminasse com ela, ia magoar a pessoa que lhe ajudou durante vários momentos
difíceis. Se terminasse com ela, podia acabar perdendo o amor da sua vida. Se
continuasse com ela, poderia ter deixado de viver e conhecer o amor da sua
vida.
Escolhas são complicadas, não é? Ele
queria que eu escolhesse por ele. Insisti que ele pensassem bem no assunto, que
era ele quem tinha que decidir. Falei para que ele conversasse com ela. Acho
que o maior problema com escolhas é que você nunca sabe se tomou a melhor
decisão. Até porque não existe uma “melhor” escolha. Qualquer uma das opções
têm lados positivos e negativos. É sempre uma aposta.