quinta-feira, 22 de maio de 2014

Madrugadas

Três da madrugada. Você vira de um lado para o outro na cama tentando relaxar. Não consegue. A janta não caiu bem e você sente desconforto, não importa como decida deitar. Precisa dormir logo, porque às seis, no maximo seis e meia, tem de estar de pé. E colocar a roupa, comer um sanduíche sem margarina e sem presunto (porque não teve tempo de passar no mercado ainda), beber um café meio queimado, enfrentar o ônibus lotado cheio de gente se acotovelando e ir trabalhar.

Agora, você não tem certeza se é só a janta que caiu mal que lhe impede de dormir ou se os pensamentos que povoam o fundo da sua mente também. O inventário. Todo mundo dizendo para você ir tirando o dinheiro da poupança dela aos poucos, sem comunicar ao banco do falecimento. Mas não. Você decidiu fazer do jeito certo e levar os documentos no banco, para descobrir que precisava de quinhentos outros papeis, de um advogado e de um inventário. Tudo isso por causa dos 5000 reais que ela estava juntando para te ajudar a pagar a formatura e dar entrada num carro. Saudades dela, aliás. Além de ser triste perder alguém querido, agora você tem de viver consigo mesmo sabendo que não tem ninguém com quem possa realmente contar. Pode ser egoísta dizer isso, mas o pior de tudo foi o buraco que ela deixou em sua vida.

Você tem certeza agora que não foi só a janta que caiu mal. Esses pensamentos o deixam desperto e você ouve os parquês estalando. E, por que será, se os únicos dois seres vivos da casa alem de você dormem ao seu lado? Outro estalo. Parece vir do banheiro. Algo pinga. Parquês estalam. Você precisa dormir logo e não consegue. Angústia lhe sufoca, aperta o peito. Ou talvez seja o nervosismo, por não saber onde vai arranjar um advogado que faça inventários. Ou talvez seja só a janta mesmo.

Três e meia da manhã. Você vira de um lado para o outro da cama, mas não consegue relaxar. Precisa acordar às seis, mas os estalos dos parquês lhe deixam com medo demais (seja lá do que) para ligar o rádio. Se bem que qualquer fantasma, monstro ou seja lá o que estiver estalando os parquês é menos ruim do que tentar achar um advogado.

Você fecha os olhos e aguarda. O sono ou o monstro. Seja lá o que for que vier primeiro. Qualquer um dos dois é lucro, desde que lhe faça parar de pensar.

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